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Pessach - Justificativas necessárias para nosso contexto judaico-cristão

  • Foto do escritor: ICE JG
    ICE JG
  • 16 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de abr.


Durante séculos, muitos cristãos têm considerado o Pessach (ou Páscoa bíblica) como uma celebração exclusivamente judaica ou como algo pertencente apenas ao Antigo Testamento. Porém, ao examinarmos com atenção as Escrituras e o próprio testemunho de Jesus e dos apóstolos, percebemos que essa visão é limitada e, de certa forma, desconectada das raízes da fé cristã. Na verdade, o Pessach permanece profundamente relevante para a Igreja ainda hoje. Ele é mais do que uma lembrança histórica - é um memorial eterno de redenção, um ato profético e uma prática espiritual que revela o coração do Evangelho.


Uma das justificativas para que a Igreja celebre o Pessach está no próprio mandamento de Deus a Israel: “Este dia vos será por memorial, e o celebrareis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.” (Êxodo 12.14). Deus nunca declarou que o Pessach seria limitado a uma época ou cultura. Pelo contrário, ele o instituiu como um memorial perpétuo - algo contínuo, que atravessaria gerações como parte da identidade do povo redimido.


No Evangelho de Lucas, Jesus expressa com profunda emoção o seu desejo de celebrar o Pessach com os discípulos antes de sua morte: “Desejei ansiosamente comer convosco esta Páscoa antes do meu sofrimento.” (Lucas 22.15). Ele não via o Pessach como algo ultrapassado ou meramente simbólico, mas como um momento de comunhão, ensino e revelação. E, mais ainda, declarou que não celebraria novamente até que se cumprisse no Reino de Deus (Lc 22.16) - o que indica que o Pessach ainda tem uma dimensão futura, escatológica, a ser plenamente revelada.


A prática de Jesus também é uma ótima justificativa para a celebração continuada. O Mestre não apenas observou o Pessach - Ele o viveu com profundidade e intencionalidade. Em Mateus 26.19, lemos que os discípulos prepararam o Pessach conforme Ele ordenara. Jesus não rompeu com a tradição do Pessach, mas a cumpriu e a explicou à luz de Sua missão redentora.


Durante essa última ceia pascal, Jesus tomou os elementos tradicionais - pão e vinho - e os aplicou a si mesmo: “Isto é o meu corpo... este é o meu sangue da nova aliança” (Mt 26.26-28). Ele revelou que o cordeiro pascal, sacrificado desde Êxodo 12, apontava para Ele, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.


Se o nosso Senhor e Salvador considerou essencial participar do Pessach e lhe deu novo significado, por que nós, como corpo de Cristo, deveríamos nos afastar dessa celebração? A prática de Jesus não apenas autoriza, mas inspira a Igreja a redescobrir o valor do Pessach em sua fé e liturgia.


Outro argumento sólido vem do testemunho apostólico. Paulo, escrevendo à igreja em Corinto - uma comunidade majoritariamente gentílica - não só menciona o Pessach, mas o associa diretamente com Cristo e com a vida cristã: “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado por nós. Por isso, celebremos a festa...” (1Co 5.7-8).


Note que Paulo não diz “Cristo foi o fim da festa” ou “já não precisamos celebrar”, mas exatamente o oposto: “celebremos!” Ele está chamando os crentes a participarem da festa com sinceridade e verdade, agora iluminados pela revelação de Cristo como o verdadeiro Cordeiro.


Paulo entende que o Pessach não foi abolido, mas sim transformado, aprofundado e cumprido em Cristo. A Igreja, mesmo fora do contexto judaico, é convidada a entrar nessa celebração com significado apontado para Cristo. O Pessach é apenas a memória da libertação do Egito, mas a celebração da libertação do pecado e da morte, por meio de Jesus.


Muitos cristãos participam regularmente da "ceia do Senhor", em seu formato reduzido e reinterpretado, sem perceberem que estão, na verdade, tomando parte na própria celebração do Pessach. Em 1Coríntios 5 e 1Coríntios 11, o apóstolo Paulo não introduz uma nova cerimônia, mas trata diretamente da Páscoa bíblica que estava sendo observada pela comunidade cristã de Corinto. Ele não questiona a validade da festa, mas corrige a forma inadequada com que os irmãos estavam se comportando ao celebrá-la.


Em 1Coríntios 5.7-8, Paulo afirma: “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado. Por isso, celebremos a festa...”. A festa mencionada aqui não é outra senão o próprio Pessach, que agora, à luz de Cristo, assume um significado pleno e transformador. E em 1Coríntios 11, ele volta a exortar os crentes porque, ao se reunirem para celebrar o Pessach, estavam tratando a ocasião com irreverência, tornando-a uma refeição comum e negligenciando o discernimento espiritual necessário para reconhecer o corpo e o sangue do Senhor.


Mais do que um ritual isolado, o Pessach é a expressão da memória de redenção. Ao celebrá-lo, a Igreja está participando do memorial que atravessa gerações - centrado em Cristo, o verdadeiro Cordeiro. Por isso, celebrar o Pessach sem reconhecer seus fundamentos é como ler o fim de um livro sem conhecer seu começo. É essencial recuperar essa consciência para que a prática seja vivida em sua totalidade, com reverência, gratidão e esperança.


O Pessach não pertence apenas ao Antigo Testamento ou ao povo judeu. Ele é um presente de Deus para todo o Seu povo, ao longo das gerações. Quando a Igreja celebra o Pessach à luz de Cristo, ela não está se judaizando, mas se conectando com suas raízes espirituais, honrando o Messias e obedecendo aos padrões estabelecidos por Deus.


O Pessach é memorial (Êx 12.14), é prática de Jesus (Mt 26.19), é orientação apostólica (1Co 5.8), e é fundamento da "ceia do Senhor" (1Co 11.20-21). Ignorá-lo é empobrecer a nossa compreensão da redenção; redescobri-lo é enriquecer nossa fé, nossa adoração e nosso testemunho.


Ao celebrarmos o Pessach hoje, lembramos com gratidão que fomos libertos do império das trevas, que temos um Cordeiro imaculado como nosso Salvador, e que aguardamos o dia em que celebraremos com Ele, novamente, no Reino de Deus. Até lá, continuamos celebrando - com pão sem fermento, com vinho de alegria, com o ensino às futuras gerações - e com a esperança viva daquele que prometeu voltar.

 
 
 

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