Origens, leis e celebração da Pessach
- ICE JG
- 14 de abr.
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Atualizado: 15 de abr.

O termo Páscoa vem do latim “Pascha”, que deriva do grego “Paskha” (Πάσχα), que por sua vez deriva do hebraico Pessach (פסח).
A celebração do Pessach, conhecido em português como Páscoa, é um dos marcos mais importantes na história do povo de Deus. Mais do que uma festa tradicional, o Pessach representa um divisor de águas, uma memória viva da redenção divina. Sua origem, estrutura e importância são traçadas ao longo de toda a Escritura, marcando profundamente a identidade espiritual daqueles que pertencem a comunidade da aliança.
A história do Pessach começa no Egito, numa noite escura e cheia de expectativa. Após nove pragas que demonstraram o poder do Senhor sobre os deuses egípcios, Deus ordenou a Moisés e Arão que preparassem o povo para a décima e definitiva intervenção: a morte dos primogênitos.
Nesse contexto, Deus instituiu o Pessach como uma celebração perpétua (Êx 12.1-50). Cada família deveria sacrificar um cordeiro sem defeito, de um ano, e aplicar o sangue nos umbrais das portas. O sangue seria o sinal para que o anjo da morte "passasse por cima" daquela casa - daí o nome “Pessach”, que em hebraico significa “passar por cima” ou “poupar”.
Naquela noite, enquanto os egípcios choravam a perda de seus primogênitos, os israelitas comiam apressadamente o cordeiro assado, com pães sem fermento e ervas amargas. Era o início de uma jornada de libertação. Deus ordenou que esse evento fosse lembrado ano após ano, como memorial da fidelidade do Senhor.
Após o êxodo, a caminhada de Israel rumo ao Sinai trouxe novos desafios. O povo, por vezes rebelde, violou a aliança feita com Deus. Ainda assim, o Senhor renovou Seu pacto com Moisés e com a nação. Nesse contexto, o Pessach foi reafirmado como símbolo de fidelidade (Êx 34.25). A pureza do ritual e a obediência à ordem divina eram centrais para manter viva a aliança com Deus.
Ao longo do tempo, o Senhor revelou mais detalhes sobre como seu povo deveria celebrar o Pessach. Em Levítico 23, o Pessach é inserido no calendário das festas sagradas. A festa começava no décimo quarto dia do primeiro mês ao entardecer, seguida pela Festa dos Pães Asmos por sete dias. O primeiro e o sétimo dias eram dias solenes de descanso e culto. Nenhum trabalho poderia ser feito; sacrifícios eram oferecidos como aroma agradável ao Senhor. Essas diretrizes davam forma e profundidade à celebração, destacando seu caráter sagrado e coletivo.
Em Números 28, são listadas as ofertas específicas do Pessach, destacando a solenidade da ocasião. Deuteronômio 16, por sua vez, enfatiza o local da celebração - o santuário escolhido por Deus -, reforçando a centralidade do culto e da comunhão com o Senhor. O povo deveria lembrar com detalhes a noite da saída do Egito, sem fermento, em humildade e com coração grato.
O Pessach foi celebrado em momentos marcantes da história de Israel. Quando os israelitas saíram de Ramessés no Egito, no décimo quinto dia do primeiro mês (Nm 33.3), levavam consigo não apenas pertences, mas a esperança renovada pela promessa de Deus.
Em Josué 5.9-12, o Pessach é celebrado em Gilgal, logo após a travessia do Jordão. É um momento de transição: do maná à colheita da terra prometida. A aliança é reafirmada com a circuncisão e o povo experimenta a fidelidade de Deus em sua nova terra.
Durante os reinados de Ezequias (2Cr 30) e Josias (2Rs 23.21-23; 2Cr 35.1-19), o Pessach é restaurado com grande zelo. Ambos os reis lideram um retorno às Escrituras e à pureza do culto. As festas foram tão impactantes que superaram em glória muitas outras celebrações anteriores. Houve confissão, purificação, louvor e uma volta ao Deus da aliança.
Nos dias de Esdras (Ed 6.19-22), após o exílio na Babilônia, o povo celebrou o Pessach com alegria e reverência. Mesmo em tempos difíceis, a fidelidade de Deus é lembrada, e o coração do povo é movido à consagração.
Por fim, o profeta Ezequiel, ao descrever o templo restaurado em sua visão escatológica, inclui o Pessach como parte central do culto a Deus (Ez 45.21-24). Isso mostra que, mesmo em tempos futuros, o Pessach continua como símbolo vivo da libertação divina.
O Pessach não é apenas uma recordação de um evento do passado. O sangue do cordeiro nos umbrais das casas prenunciava o sangue do verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
Enquanto caminhamos nesta terra, o Pessach continua sendo imprescindível ao povo de Deus. É memória da salvação e sinal profético do que ainda esperamos. Pois chegará o dia em que celebraremos a redenção final, ao lado de Cristo, o Cordeiro, naquele grande banquete celestial.
Até lá, como o povo no deserto, como os reis reformadores, como os exilados restaurados, continuamos a celebrar com fé, aguardando o dia em que o Cordeiro nos conduzirá à plena liberdade, em comunhão eterna com o nosso Deus.
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