A Temporada da Desconexão
- ICE JG
- 17 de jul.
- 6 min de leitura

Não consigo compreender por que a era digital é tão efusivamente celebrada. É, afinal, a única era em que o ser humano dispõe de tempo e meios para uma alienação completa. Isso se revela com um simples olhar para esses documentos onipresentes chamados feeds de redes sociais. Enquanto o algoritmo dita o ritmo, as coisas mais banais e efêmeras são apresentadas como se fossem essenciais. Manchetes colossais anunciam a mais recente dancinha viral ou inflamam debates sobre a cor de um vestido. Trivialidades se tornam tremendas — até que se inicie a temporada da desconexão, ou melhor, a temporada da sabedoria. É nesse raro intervalo que nos é concedido o tempo para pensar — aquele tempo que artesãos e sábios sempre souberam aproveitar: um tempo para contemplar a vastidão do cosmos e a profundidade da alma. Poucos de nós fazem isso. Mas o simples fato de que apenas nesse tempo nos sentimos exaustos do resto já demonstra o quanto ele é, paradoxalmente, o tempo mais sério.
Na temporada da desconexão, de repente, nos afastamos das frivolidades. Abandonamos os problemas vazios da celebridade da semana, deixamos de lado polêmicas ocas, e nos voltamos, por um instante, para questões cuja importância é incontestável. Começamos a discutir “a decadência dos valores”, “o que está realmente errado conosco?”, a autoridade do espírito, ou até mesmo se “estamos realmente vivos”. Esses dilemas terríveis e eternos só emergem quando o ruído das telas silencia. Durante o resto do ano, somos levianos; apenas nesses raros momentos de silêncio nos tornamos realmente sérios. Enquanto as notificações nos empurram para a pergunta “nós curtimos?”, somente na ausência delas ousamos perguntar “nós existimos e cremos?”. Nos dias comuns, perguntamos “Este influencer teve sucesso?”; apenas na temporada da desconexão nos questionamos: “O relacionamento humano fracassou?”. Sim, é apenas nesse tempo fugaz que conseguimos pensar nas coisas que importam. Nossas pausas digitais são os únicos momentos em que voltamos o olhar para os enigmas graves e permanentes da existência. Só nesses momentos não somos arrastados por um scroll aleatório ou abalados por um post histérico. Só então julgamos com a paciência de filósofos. A temporada da desconexão pode ser o único tempo em que não somos tolos e ignóbeis.
Esse caráter solene das pausas está implícito em sua própria natureza: o tempo reservado para ser pausa é o tempo reservado para ser sagrado. Na prática, a desconexão costuma revelar o lado mais sério de um homem. Durante a conexão constante, ele é mantido nas margens da futilidade — entre stories e memes. Mas ao se desligar, corre para aquilo que é eterno: a contemplação da criação divina, a quietude das montanhas, o abismo do oceano. Ele passa seus dias presos ao mais volátil dos fenômenos — o algoritmo social — e, no instante da pausa, busca o mais permanente: a obra de Deus e a verdade imutável.
Estou profundamente convencido de uma verdade simples: o tipo mais “ocioso” de desconexão é o melhor. Ao se tornar “ocioso” para as redes, você se reconcilia com a vida ao seu redor — o mundo real. Ao não fazer nada digital, você está fazendo tudo que importa. A atmosfera da realidade o invade, enquanto os outros se enchem de conteúdo efêmero e do vento frio da superficialidade. Acima de tudo, recuse — recuse com paixão — entregar sua atenção a futilidades. Se você se recusar com veemência a seguir a próxima tendência vazia, será recompensado com um tesouro reservado a poucos: verá a vida real. Se negar a própria existência da futilidade digital, verá o mundo com olhos purificados — em sua beleza intrínseca e complexidade. Não é um paradoxo. É um fragmento de sabedoria prática que nunca foi escrito — e, se quiser, posso listar suas razões.
Existe uma razão clara e sensata para rejeitarmos os ideais inflados das bolhas digitais: em qualquer plataforma, as “verdades” ali celebradas são as mesmas — parciais, superficiais, infladas pelo ego. Elas representam a civilização do eu, da distorção, que se repete em todos os círculos. As maiores maravilhas do mundo não precisam de tela para serem vistas. As grandes verdades da vida estão na simplicidade da existência. As maravilhas da criação divina estão às nossas portas. Um jovem urbano não pode ignorar a exuberância artística da natureza — basta olhar para o céu. Um camponês não pode ignorar que os fundamentos da vida repousam sobre princípios eternos.
A polêmica viral das redes é a última coisa de que precisamos — temos polêmicas reais no dia a dia. A opinião dogmática da timeline não nos falta — temos discussões autênticas em nossas comunidades. O que falta, na verdade, é o que as redes não oferecem: silêncio para refletir, profundidade para conversar. É na vida comum das pessoas, em seus próprios ambientes, que se esconde o verdadeiro encanto. São as coisas ordinárias que nos assombram de forma extraordinária. As “coisas extraordinárias” do mundo digital, por sua vez, são rotineiras, repetitivas, distorcidas — já explicadas em detalhes por nossos insuportáveis gurus. O homem que se recusa a sair de um banco no parque para ver a última fofoca digital presta a maior homenagem à verdade. O mesmo se aplica àquele que se perde nas telas: ele não precisa da imagem de um monumento para sentir grandeza. Um sorriso real de um amigo é mais monumental que qualquer edifício: é arquitetura da alma. É algo genuíno, produto da poesia das interações humanas. Nunca foi domesticado pelo digital. É um símbolo do consolo sincero que é, de fato, humano. É algo que merece peregrinação de corações.
A tela de um dispositivo é símbolo perfeito do espírito de nossa época. O grande mal moderno é que nossa paixão pela liberdade — algo nobre — deu lugar ao império dos mais barulhentos ou dos mais ricos. Pois hoje, “liberdade de ideias” virou sinônimo de “exposição” — e exposição virou sinônimo de manipulação. Espalhar ideias tolas virou um ideal, mas, na prática, quem mais as espalha é quem tem mais tempo de tela. Daí nasce esse poder de um individualismo raso, cujo símbolo supremo é a tela luminosa. Nossa época une, de modo estranho, coragem para expor a intimidade com um exibicionismo quase insano. São pessoas descuidadas com a sanidade mental, mas extremamente zelosas com a própria imagem online.
Isso se vê até na estrutura de um celular. Comparado a outros meios de informação, ele é mais viciante e mais vazio. Um lugar onde alguém se perde — e do qual não quer sair, mesmo se sentindo mal. E ainda me espanta que tantos digam que não veem beleza na vida real. Não só ela é bela, mas carrega um tipo de romance ancestral, delicado. O mundo virtual canta com métodos modernos, mas é o mundo real que vibra com as narrativas eternas da humanidade. Só ele preserva os ritmos sonhadores da existência. Só ele murmura os segredos da criação — sussurrados pelas montanhas, pelas árvores e pelos campos.
Se você deseja preencher seus ouvidos e alma com a melodia do passado, a verdade do presente e a esperança do futuro — leia bons livros, especialmente os clássicos. Mergulhe em Dom Quixote, e verá a loucura e a nobreza humana. Leia Orgulho e Preconceito, e entenderá a complexidade dos afetos. Aventure-se em A Divina Comédia, e viajará por céus e infernos da alma. Leia Tom Jones e apreciará a masculinidade e o bom romance.
Mas acima de tudo — leia a Bíblia. Fonte de toda sabedoria, história maior que todas as histórias. Feche os olhos para o brilho das telas e abra-os para as páginas sagradas. Ali está a narrativa da humanidade, a profundidade do amor divino, e a bússola para uma vida plena. Ela nos ancora no eterno, nos liberta do efêmero e nos reconecta à fonte da criação.
Suplico: não destrua sua percepção da realidade. Não se deixe alienar pelas distrações. A sabedoria ainda nos espera — no silêncio, na contemplação, e na leitura daquilo que permanece. Há uma ruína sagrada que nos conduz de volta ao lar — à sanidade, e a Deus.
[1] Nathan Montclaro é um pseudônimo. Um pseudônimo é um nome fictício utilizado por autores, artistas ou outras personalidades no lugar de seu nome real. No caso de Nathan Montclaro, o uso de um pseudônimo reforça o caráter atemporal da escrita, mantendo o foco na narrativa e não na figura do autor.
[2] Este artigo que você acabou de ler é uma adaptação e emulação do primeiro artigo de "OUR NOTEBOOK – VOLUME I – 1905" de G.K. Chesterton, intitulado "The Silly Season". Buscamos emular a estrutura, o tom crítico e o estilo perspicaz do autor, transportando suas observações sobre a futilidade da época para uma reflexão sobre as distrações da era digital e a importância da busca pela verdade e pela conexão com o mundo real e espiritual.
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