4
Graças a Deus e a sua dedicação, você chegou até aqui.
É crucial relembrar que este programa é uma proposta de autoestudo; portanto, o progresso do seu conhecimento dependerá exclusivamente do tempo que você dedicar à análise dos recursos aqui sugeridos.
Para a reflexão de hoje, exploraremos o mundo pré-diluviano, ou seja, a história que antecede o marco do Grande Dilúvio.
Observaremos os processos educacionais e orgânicos presentes na narrativa bíblica, analisando suas características e princípios.
Antes, uma breve pausa para uma reflexão sobre a definição de educação clássica. Educação é uma palavra derivada do latim educare, que significa "conduzir para fora [maturidade]" ou "guiar". Isso sugere que educar é trazer à tona o potencial orgânico de uma pessoa, da virtualidade [teoria] à realidade, auxiliando-a a desenvolver suas habilidades de acordo com sua capacidade - da infância à juventude, da juventude à vida adulta. Clássico é tudo aquilo que foi produzido por meio de artifícios criativos e que gerou, e ainda gera, encanto e admiração por parte daqueles que o acessam. Ao unirmos os dois termos - educação e clássica -, temos a percepção de um processo formativo e educacional que foi utilizado em algum momento anterior, preservado ao longo da história e que continua a despertar encanto e admiração até hoje.
A pergunta é: quais momentos da história servem à educação efetiva nos dias de hoje? A que ponto da história devo retornar para definir educação clássica?
Considere o marco mais distante para onde podemos retornar no que tange à reflexão sobre a educação, refiro-me ao primeiro ato criativo de Deus em toda a história.
O primeiro versículo da Bíblia diz: "No princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gênesis 1.1).
Neste ponto, preciso oferecer algumas notas sobre a melhor leitura deste versículo. Pense no seguinte: os livros da Bíblia não possuíam títulos originalmente. O termo "Gênesis" foi introduzido no mundo grego para referenciar o primeiro livro de Moisés, mas não é um título original. Alguns ortodoxos preferem intitular o livro como "Livro das Origens" ou "Livro dos Princípios". Contudo, embora na antiguidade, o livro não possuísse esse título, era referenciado pela primeira palavra ou pela primeira sentença do texto.
Além desses fatos, ainda existe o desafio da tradução, que nem sempre consegue ser fiel ao texto original. Defendo que a primeira palavra de Gênesis 1.1, ou seja, "bereshit", não deve ser compreendida apenas como um marco temporal, mas como um fundamento, a base sobre a qual todas as demais coisas são postas ou criadas. Além disso, adotando o posicionamento de Bryan Rocine, em seu livro "Hebraico Bíblico: Uma Abordagem Utilizando Análise do Discurso", também destaco que o verbo "criou", assim traduzido para o português, não tem uma função de demonstração de uma ação temporal, mas funciona como um indicador atributivo. Ou seja, a intenção original de Moisés foi afirmar que, no fundamento de toda a criação, Deus é o Criador dos céus e da terra. Portanto, o assunto principal de Gênesis é apontar que todas as coisas existentes e a própria história têm seu fundamento em Deus, que é o Criador.
Dessa forma, podemos dizer que todo o processo formativo e educacional do ser humano precisa estar alicerçado em Deus como fundamento sobre o qual todo o conhecimento será construído.
Com base nessa ideia, poderemos então examinar alguns textos do livro de Gênesis e perceber como a educação se desenvolveu na origem da história humana, bem como identificar os princípios ou elementos educativos que podemos extrair dessas passagens.
Lembrem-se, meu propósito é oferecer um guia de autoestudo; portanto, você deve refletir e internalizar esse conhecimento para a formação de suas próprias crenças.
O segundo texto selecionado é Gênesis 1.26-27, que diz: "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou".
Quero destacar dois pontos nesta passagem.
Primeiro, faço referência ao trecho que diz: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança." Esse texto é amplamente debatido no meio teológico, mas não é meu objetivo aqui admitir ou considerar as diversas discussões sobre ele. Meu propósito é apenas apresentar explicações ou afirmações específicas acerca desse trecho.
Ao dizer "Façamos o homem à nossa imagem", percebam que o texto está mais preocupado em definir a missão do homem na criação do que em estabelecer características próprias do ser humano. A tradução para o português nos auxilia na compreensão desse ponto, pois o uso do acento grave no "à" indica a fusão de uma preposição com um artigo. Assim, a leitura poderia ser entendida como "Façamos o homem para a nossa imagem." Isso significa que, no texto de Gênesis, o propósito maior é estabelecer que o homem foi criado para cumprir a missão daquele que é representado graficamente pela palavra "imagem", a saber, o próprio Criador.
Permitam-me explicar a razão da escolha do autor pelo termo “imagem”. Sabemos que Moisés libertou o Povo da Aliança do cativeiro egípcio, onde permaneceram por muito tempo e, naturalmente, absorveram elementos da cultura local. Um desses elementos era a concepção de que toda divindade do mundo politeísta egípcio era representada por uma imagem. Provavelmente, foi essa influência que levou Arão e seus companheiros a fabricarem o bezerro de ouro enquanto Moisés estava no monte recebendo as tábuas da lei. No caso específico de Gênesis 1.26, Moisés escolheu a palavra "imagem" para levar o povo à reflexão de que Deus, o Criador, não possui uma representação feita por mãos humanas. Seu propósito foi justamente enfatizar que Deus não tem uma forma física criada pelo homem. Em resumo, o texto transmite a ideia de que o homem foi criado para projetar sua vida no Criador. Essa é a razão pela qual, no grande mandamento de Êxodo 20 e Deuteronômio 11, Deus proíbe a confecção de imagens esculpidas.
Na sequência, Moisés escreveu: "conforme a nossa semelhança." No hebraico, os termos "imagem" e "semelhança" não possuem significados distintos; ao contrário, são sinônimos e fazem parte de um recurso linguístico chamado hendíade, ou seja, dois termos para transmitir a mesma ideia textual. Isso significa que Moisés estava reforçando a ideia de que o homem, em sua criação, recebeu uma missão direcionada para Deus.
A segunda observação que desejo fazer refere-se ao elemento final do versículo 27, onde lemos: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." Novamente, percebe-se o uso do "à" com crase, reiterando a missão dada à humanidade. Porém, há um detalhe importante: na primeira ocorrência da palavra "homem", o termo hebraico refere-se à humanidade como um todo, abrangendo tanto o macho quanto a fêmea. No final do versículo, entretanto, Moisés emprega termos distintos para indicar os sexos masculino e feminino. O que isso nos revela? Que, na criação, Deus estabeleceu a família a partir da concepção de necessidade de sexos opostos, no qual homem e mulher seriam os agentes responsáveis pelo cumprimento da missão divina de domínio, reprodução e representação.
Talvez você esteja se perguntando: "Mas o que tudo isso tem a ver com educação?" Ora, antes de tudo, é essencial compreender que toda educação deve estar fundamentada na missão original do homem, ou seja, todo ser humano é criado para projetar sua vida em Deus. Em segundo lugar, sem a formação familiar, torna-se impossível promover uma educação efetiva. A família é a base da educação, pois somente por meio dela é possível cumprir o propósito original de Deus.
A partir deste ponto, quero fazer referência a algumas passagens bíblicas que demonstram a existência de um processo educativo que, em certo nível, respeitou os fundamentos anteriormente mencionados.
A primeira passagem está em Gênesis 4.1-2. Nela, Moisés relata que Adão e Eva tiveram dois filhos, Caim e Abel. O texto menciona que Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim, lavrador. Notem que, de alguma forma, os filhos de Adão e Eva foram instruídos a se auto educarem para desenvolver suas atividades profissionais e, por meio delas, cumprir a ordem original. Houve, assim, um processo de educação intencional e orgânico.
Outro texto relevante é Gênesis 4.17-18, que menciona Caim, filho de Adão e Eva, casando-se e gerando um filho chamado Enoque. O texto afirma que Enoque edificou uma cidade. Embora seja difícil determinar com precisão o significado disso, podemos inferir que, em algum nível, havia conhecimento arquitetônico, geográfico, político e social. Isso evidencia o desenvolvimento do pensamento humano por meio da transmissão de conhecimento ou do aprendizado autodidata.
Ainda em Gênesis 4.20-22, lemos que Ada, descendente de Caim, deu à luz Jabal, pai dos que habitam em tendas e possuem gado. Seu irmão, Jubal, tornou-se o criador dos instrumentos de harpa e flauta. Já Tubalcaim foi artífice de instrumentos cortantes de bronze e ferro. Isso demonstra que, desde os primórdios, conhecimentos técnicos e científicos foram utilizados no desenvolvimento da construção, da agropecuária, da música e da metalurgia.
Neste ponto, gostaria de esclarecer que meu objetivo não é discutir o que foi ou não aprovado por Deus no decorrer da história. Quero apenas demonstrar que os processos formativos e educativos ocorreram ao longo do período pré-diluviano, sem a influência das especializações pedagógicas mal concebidas dos tempos modernos. O que existia eram pessoas que ensinavam seus filhos, e filhos que aprendiam por meio do autoexame, da autorreflexão e do autoestudo, aplicando esse conhecimento às suas atividades e ao contexto em que estavam inseridos.
Ainda no contexto pré-diluviano, há um aspecto que pode ser questionado por alguns estudiosos, mas que considero relevante. Em Gênesis 5.1, lemos: "Este é o livro da genealogia de Adão." Alguns estudiosos sugerem que essa expressão se refere a um livro literal, ou seja, Adão teria escrito uma obra registrando fatos sobre suas gerações. Caso essa interpretação esteja correta, temos evidências do desenvolvimento da linguagem, representada graficamente desde os primórdios da humanidade. É verdade que estudos acadêmicos apontam que os primeiros registros gráficos conhecidos datam de um período posterior ao primeiro milênio, situando-se na Mesopotâmia no período pós-diluviano. Falaremos mais sobre isso adiante. Por ora, basta reconhecer que, dada a importância da linguagem no primeiro milênio, seu desenvolvimento também representa um avanço educacional.
Agora, quero apresentar duas referências bíblicas e desafiá-lo a buscar evidências de processos formativos e educativos no mundo pré-diluviano:
-
Gênesis 5.28-32
-
Gênesis 6.9-22
Espero que você permaneça firme e motivado a continuar seus estudos sobre a educação clássica, ou, mais especificamente, a educação do Éden.
Que Deus o abençoe e bons estudos!